quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A história dos Wings

A trajetória de uma das maiores bandas dos anos 70
O Wings foi uma das bandas mais bem-sucedidas de seu tempo. Formado por uma estrela veterana do rock, sua esposa e um conjunto de músicos competentes, a ideia do líder do grupo era começar como um grupo realmente iniciante, sem aproveitar o peso de seu nome.

A origem das asas
Paul McCartney passou por um período difícil. Seu primeiro disco solo, gravado inteiramente sozinho, veio junto com o anúncio do fim da maior banda de rock de todos os tempos da qual fazia parte. Ele se refugiou em sua fazenda na Escócia e passou pela depressão associando o fim do grupo ao fim de sua carreira.

Aos poucos ele foi se reerguendo. Um segundo trabalho solo, Ram, foi lançado em 1971, e, apesar de algumas críticas negativas, trazia um Paul disposto a continuar fazendo música e mostrando seu dom para a concepção de álbuns elaborados. Um single de sucesso, “Another Day”, fez Paul perceber que ainda era capaz de produzir boa música.

Em Ram, Paul contou não apenas com a colaboração de sua mulher Linda nos vocais como decidiu experimentar músicos de Nova York, onde o disco foi gravado. Assim foram recrutados os guitarristas David Spinozza e Hugh McCracken e o baterista Denny Seiwell. O resultado foi ótimo. Paul se sentiu mais confiante para seguir uma carreira solo.

Uma peculiaridade de Paul McCartney era (e ainda é) sua paixão pelos palcos e por fazer parte de uma banda. Foi assim que ele começou na adolescência. Fora criado no mundo da música dessa maneira. E esse instinto ainda permanecia nele. O primeiro passo para a formação de uma nova banda foi convencer sua esposa a fazer parte do trabalho. Linda relutou de imediato. “Sou apenas uma fotógrafa”, disse ao marido. Ele garantiu que lhe ensinaria tudo o que precisava saber para se virar nos teclados. Paul precisava dela ao seu lado. Foi Linda que segurou a barra nos momentos mais difíceis. E ela encarou o desafio mesmo sabendo que seria bombardeada por todos os lados.

Em agosto de 1971, Paul entrou em contato com Hugh McCraken e Denny Seiwell, que trabalharam em Ram para formarem uma banda com objetivo de gravar e fazer shows. Seiwell aceitou o convite, mas o guitarrista McCraken recusou. Seu desejo era continuar apenas como baterista de estúdio. Então Paul se lembrou de Denny Laine.

Paul conheceu Laine ainda em 1965 quando este era membro do Moody Blues, grupo que abriu os shows dos Beatles durante a turnê inglesa daquele ano. Denny, que já não estava mais com o Moody, concordou em fazer parte da nova banda.

Paul instalou equipamentos de som em seu próprio celeiro para realizarem os primeiros ensaios. O local foi batizado de Estúdios Rude. E lá estava um grupo de músicos improvisando pela primeira vez. Denny Seiwell na bateria, Denny Laine na guitarra, Linda nos teclados e um Paul McCartney no contrabaixo a princípio estranhando não estar cercado dos antigos companheiros. Mas a banda entrosou logo de cara. Com o passar dos dias, os covers deram lugar às novas composições que Paul vinha trabalhando com Linda.

Certo dia Seiwell trouxe um tecladista experiente para a formação da banda. Um tal Paul Harris que tinha experiência nos palcos. McCartney não aceitou Harris no grupo afirmando que Linda seria a única nos teclados. Aparentemente, os demais não haviam se dado conta de que a mulher do líder, que estava grávida, realmente estaria dos discos e nos shows. Eles notaram seu desempenho amador no instrumento e concluíram que era apenas questão de incluir um profissional. Mas Paul estava no comando. Apesar de querer formar uma banda, não trabalharia exatamente com a mesma democracia de outrora. Ele poderia fazer do seu jeito.

E assim a banda seguiu ensaiando até entrarem nos estúdios Abbey Road para gravar o primeiro álbum. Paul acabou gravando boa parte dos teclados, embora Linda estivesse ativamente em diversos vocais, além de trazer a influência do reggae e o apoio que o marido tanto precisava para seguir em frente.

Em setembro de 1971, Linda entrou em trabalho de parto para dar a luz à segunda filha do casal, Stella (eles já tinham Mary, além de Heather, fruto do primeiro casamento de Linda). Na maternidade, Paul começou a meditar sobre o nome da banda. Em um daqueles momentos de reflexão aliados à permissão para a mente viajar, ele simplesmente visualizou asas. Asas de anjo. Tão logo o médico veio lhe dar a notícia de que esposa e filha recém-nascida estavam bem, Paul decidiu optar pela imagem de asas e batizar sua nova banda como Wings.

Em dezembro foi lançado o álbum Wings Wild Life. A crítica não gostou muito e o público, em geral, pareceu não dar muita atenção. Mas isso não fez Paul desistir de seu próximo passo: Seguir estrada a fora. Eles precisavam de um outro guitarrista para compor a formação que se apresentaria ao vivo. Denny Laine indicou Henry McCullough que havia tocado no Spooky Tooth e com Joe Cocker (inclusive em Woodstock).

O início de 1972 foi a preparação para os shows. Paul queria que a banda começasse “de baixo” como se fossem jovens estreantes no mundo da música. Paul alugou uma van para os instrumentos e uma caminhonete para o grupo. Com alguns ajudantes viajando junto, ele pôs em prática sua ideia de “volta ao básico”, oferecendo apresentações em cada Universidade no norte da Inglaterra por onde passavam. Portanto, a iniciativa ficou conhecida como a “Turnê Universitária”.

O desejo de tocar em locais pequenos vinha desde 1968 e ele sugeriu isso aos Beatles mais de uma vez, mas nenhum deles concordou. Anos mais tarde, John Lennon comentou sobre isso. “Eu meio que admiro o jeito como Paul começou a partir do zero formando uma nova banda e tocando em pequenos salões de dança. Porque era isso que ele queria fazer com os Beatles. Ele queria que experimentássemos aquilo de novo. Esse foi um dos problemas… Não era o que eu queria fazer”. (John Lennon, Revista Playboy, 1980)

A estreia ocorreu na Nottingham University. Linda, visivelmente nervosa, esqueceu os acordes iniciais no teclado, mas logo se recuperou. A banda se mostrou entrosada e Paul com vocal vigoroso. Eles se divertiram. Apresentaram as músicas novas e encerram com “Long Tall Sally”, único lampejo de lembrança de outros tempos.

A turnê seguinte, entre julho e agosto, já se mostrou algo mais profissional. Com programação de agenda e devida divulgação, o Wings se apresentou na França, Alemanha, Suécia e Holanda. O grupo enfrentou altos e baixos na estrada. Apesar da ideia de banda iniciante, o peso do nome Paul McCartney era o suficiente para despertar a atenção.

Polêmicas
Em 1972, três músicas gravadas pelo Wings causaram polêmica e discussão na imprensa. “Give Ireland Back To The Irish” foi lançada em compacto em fevereiro. O tema era uma reação ao conflito ocorrido em 30 de janeiro na Irlanda do Norte por conta da invasão britânica que culminou no massacre de 14 manifestantes e mais 26 feridos. Esse fato ficou conhecido como Domingo Sangrento (Bloody Sunday). Paul adotou uma postura até então atribuída apenas a John Lennon e compôs esta canção em defesa dos irlandeses.

Entretanto, a BBC proibiu a faixa em sua programação para não alimentar discussões políticas. Esta censura e a frieza da crítica em relação ao single teriam feito Lennon desistir de lançar um compacto ao vivo com a sua “The Luck Of The Irish”, sobre o mesmo assunto.

Apesar de esse fato colocar Paul como mais um símbolo radical contra a guerra, ele preferiu fazer algo totalmente oposto em seu próximo lançamento. Trata-se de uma versão açucarada da cantiga infantil “Mary Had A Little Lamb”. Mesmo os integrantes da banda acharam estranha aquela gravação extremamente pop. Provavelmente Paul estava apenas mostrando o seu lado paterno cantando para as filhas pequenas, com direito a um videoclipe colorido para acompanhar.

O ano seguiria com mais uma faixa que chamou a atenção. “Hi Hi Hi” trazia Paul e sua banda Wings em um excelente número de rock’ n’ roll, porém, a letra com supostas conotações sexuais e alusão à drogas garantiram mais uma censura da BBC. Todos ouviam o refrão como “We’re gonna get high, high, high” (Vamos ficar chapados/drogados). Mas a proibição também gera notoriedade. A faixa fez sucesso tanto na Inglaterra quanto nos EUA e o Wings estabelecia seu nome em ascensão.

No dia 10 de agosto daquele ano, Paul teve seu primeiro grande problema com a polícia. Na Suécia, as autoridades descobriram um pacote de haxixe encomendado por Paul. Eles prenderam o astro logo após o show em Gottenburgo. Todo o grupo foi conduzido à delegacia e a notícia, incluindo fotos de Linda algemada, se espalhou pelo mundo inteiro.

Não seria a única vez que isso aconteceria. Ainda em 1972 a polícia descobriu uma plantação de maconha na fazenda de Paul e o músico se limitou a dizer à imprensa que não sabia exatamente do que se tratava. Anos mais tarde houve a prisão no Japão por posse de drogas que o deixaria enjaulado por nove dias. E já na década de 80, outra prisão em Barbados.
Banda em fuga
1973 trouxe um novo disco do Wings, Red Rose Speedway. Uma produção mais sofisticada de uma banda de veteranos já com alguma experiência em conjunto. Entre os números de rock, vaudeville e baladas, Paul sempre sabia exatamente como queria que fossem gravados os arranjos de suas composições e instruía os músicos como deveriam tocar suas respectivas partes. Mas, Henry McCullough resolveu desafiar as instruções do líder e questionou se poderia tentar um solo de guitarra para “My Love” durante um intervalo instrumental da faixa. Paul concordou e ficou boquiaberto com o desempenho do guitarrista. O solo foi perfeito, e a canção, lançada como single fez sucesso no mundo todo e ainda é uma das mais belas músicas de Paul McCartney.

Mais uma obra bem sucedida veio a seguir. Paul compôs o tema para o novo filme de James Bond, “Live And Let Die”. A gravação proporcionou o reencontro com George Martin que produziu a faixa. O sucesso da música foi estrondoso e Paul aproveitou o momento para realizar um especial de TV chamado “James Paul McCartney” no qual pela primeira vez interpretou canções suas da época dos Beatles.

Agora o Wings era uma banda estabelecida. Paul nutria certa paixão por desafios e coisas diferentes. A ideia para o próximo disco era gravá-lo em um local exótico. Então ele pegou uma relação de estúdios que a EMI possuíam ao redor do mundo e se decidiu por Lagos na Nigéria.

Quando tudo parecia que ia bem, vieram os problemas internos. Durante os ensaios das novas músicas no estúdio de Paul, antes da viagem à África, Henry McCullough abandonou o grupo. Ele vinha se sentido limitado por Paul. Não tinha liberdade para atuar como guitarrista do jeito que queria e após uma discussão anunciou seu desligamento do Wings.

O baterista Denny Seiwell também não se sentia muito confortável. Seus ganhos como membro do grupo ainda eram os mesmos de quando aceitou o convite para os primeiros ensaios no estúdio da fazenda. Seiwell também se preocupou com as gravações do disco com um guitarrista a menos, visto que os arranjos eram grandiosos demais para os membros restantes. Paul garantiu que preencheria as partes que caberiam a Henry. Mas no último minuto antes de embarcarem, Seiwell desistiu. Com a pressão e a insatisfação financeira avisou por telefone que estava fora da banda. 

A princípio, Paul sentiu os ecos do fim dos Beatles o assombrando. Mas logo se encheu de um entusiasmo único de gravar o melhor disco do Wings, mesmo com o grupo reduzido a ele, Linda e Denny Laine. Assim, o trio partiu para a Nigéria. Em certo sentido, foi melhor para Paul que assumiria o controle do álbum por completo.

Eles levaram o engenheiro de som Geoff Emerick para as sessões. Tiveram que literalmente reformar o estúdio de gravação para que se pudessem gravar algo decente. Em uma das noites da estadia em Lagos, Paul e Linda foram abordados por bandidos que portavam facas. Mesmo com os apelos de Linda que insistia em dizer que a vítima era um músico famoso, os criminosos levaram dinheiro, câmeras fotográficas, as fitas demo do novo disco e as letras impressas. Por sorte, depois de tantos ensaios, Paul guardava em sua memória boa parte das músicas novas.

Em outra ocasião, músicos locais invadiram o estúdio e acusaram Paul de roubar a música africana. Paul conversou com os invasores e mostrou algumas gravações que realizaram para provar que não estavam surrupiando nenhum som nativo dali (embora a influência local seja claramente percebida em trechos de pelo menos duas faixas).

Mesmo com todos esses contratempos, o trio seguiu os trabalhos com um Paul muito obstinado e ansioso para conceber o seu próprio “Sgt. Pepper” ou “Abbey Road”.  O fato de dois integrantes terem abandonado o grupo apenas serviu para alimentar a inspiração do tema central: Band On The Run. Assim batizado, o álbum chegou às lojas em dezembro de 1973 e se tornou um clássico atemporal. Aclamado por muitos como o melhor trabalho de Paul, ou mesmo de um ex-beatle. Keith Moon, baterista do The Who elogiou o trabalho de bateria do disco e perguntou a Paul quem era o responsável pelas baquetas. Paul respondeu “por acaso sou eu”. Isso prova que a versatilidade de Paul é realizada com competência.

Entretanto, para seguir na estrada era preciso um novo baterista e um guitarrista. Assim, Geoff Britton foi contratado para assimir as baquetas enquanto os solos de guitarra ficaram sob a responsabilidade do jovem Jimmy McCulloch. Em plena Nashville, Tennessee, a nova formação do Wings gravou o compacto “Junior’s Farm”/ “Sally G.” (esta com bastante inspiração country), além de “Walking In The Park With Eloise”, composta por Jim, o pai de Paul. Britton acabou durando pouco na banda. Não se encaixava com os demais e logo seria substituído pelo norteamericano Joe English.
O auge
Paul, Linda, Denny, Jimmy e Joe, a formação mais marcante do Wings, entrou em estúdio para gravar uma nova leva de composições. Venus And Mars é repleto de músicas boas. Paul estava inspirado e a banda definitivamente entrosada e pronta para sair em turnê. O fim das gravações do álbum, que seria lançado em maio de 1975, foi marcado por uma festa a bordo do navio Queen Mary em Los Angeles que teve entre os convidados George Harrison em seu primeiro encontro público com Paul desde 1969.

Então o Wings caiu na estrada. Inglaterra, Escócia, Austrália, Dinamarca, Alemanha, Holanda e França viram uma banda de rock com um show empolgante, um repertório cheio de sucessos e muito vigor no palco. Mas não era de se estranhar que os maiores comentários acerca da turnê eram de que Paul estava cantando algumas músicas dos Beatles também.

Nessa época, ele tentava conciliar a boa fase do Wings com os rumores de que os Beatles poderiam se reunir. Uma tarefa difícil. Embora negassem a tal reunião, nessa época os quatro andavam às boas e viam uns aos outros com alguma frequência. A mídia e o mundo sabiam disso, mas nada conspirava para que os quatro se juntassem ao mesmo tempo. “Sempre tem três querendo e um de nós não. E cada vez é um diferente”, disse Lennon em 1974.

Paul vivia um momento excelente com o Wings. Começaram aos poucos, conquistaram fãs, produziram hits, cresceram e se estabeleceram. 1976 trouxe um novo album, Wings At The Speed Of Sound. Um disco competente e também democrático. Os demais membros da banda tiveram mais espaço (inclusive em vocais solo). O single extraído, “Silly Love Songs” foi direto para o topo das paradas nos EUA. O que significaria caminho livre para incluir a América na turnê. Após 10 anos, Paul estava nos palcos norteamericanos mais uma vez. E o sucesso foi absoluto. Foram dezenas de shows lotados sendo que o de Seattle em 10 de junho foi inteiramente filmado e transformado no filme “Rock Show”.

Após a turnê, Paul começou a fazer planos para 1977. Após o lançamento de um disco triplo ao vivo, a banda começou a ensaiar um álbum de inéditas em Londres. Mas, Paul teve mais uma ideia para local de gravação: em barcos nas Ilhas Virgens. Ele alugou uma frota de barcos e em um deles montou o estúdio.

Em pouco tempo, o guitarrista Jimmy McCulloch abandonou o grupo. Seu estilo boêmio regado à drogas pesadas não combinavam com a disciplina exigida por Paul. Pouco tempo depois, o baterista Joe English também deixou a banda alegando sentir necessidade de ficar definitivamente em seu lar nos EUA. O Wings se viu novamente reduzido a um trio. Mas, Paul, Linda e o fiel Denny Laine finalizaram o álbum London Town e o single de maior sucesso da banda, “Mull Of Kinture”. Esta canção se tornou a mais vendida na Inglaterra (quebrando o recorde de “She Loves You” dos Beatles) e fez um enorme sucesso nas rádios em uma época em que o punk era a moda predominante entre os jovens na terra da Rainha.

Paul parecia já acostumado à alteração de membros da banda. E como seu objetivo era sempre estar no palco, era apenas questão de recrutar novos músicos para compor o núcleo. Laurence Juber e Steve Holly ocuparam as vagas de guitarrista e baterista, respectivamente. Com covers de praxe para entrosar a banda, eles logo começaram a trabalhar em arranjos para as novas composições de Paul em 1978.

Lançado em junho do ano seguinte, Back To The Egg apresentou canções bem gravadas, rock’n’roll (inspirado no punk?), experimentos sonoros, faixas mais leves e a poderosa “Rockestra Theme” com participação de um conjunto de estrelas do rock como David Gilmour (Pink Floyd), Pete Townshend (The Who), John Paul Jones e John Bonham (ambos Led Zeppelin), Gary Brooker, Howie Casey e outros.

Uma série de shows foi realizada na Inglaterra e Escócia entre novembro e dezembro de 1979. Em 29 de dezembro uma participação do Wings no Concerts For People Of Kampuchea seria a última apresentação da banda.
O fim
O Wings tinha uma turnê de 10 dias pelo Japão no início de 1980. Mas assim que Paul desembarcou em Tóquio no dia 16 de janeiro, foi detido com meio quilo de maconha. Ele passou nove dias na prisão e o escândalo se espalhou pelo mundo. Os demais membros da banda e equipe retornaram decepcionados à Inglaterra no dia 21. Linda ficou em Tóquio até Paul ser libertado. A turnê foi cancelada e o futuro do Wings se tornou incerto.

De volta à Inglaterra, Paul permaneceu em casa trabalhando em gravações que vinha experimentando desde o ano anterior. As faixas com refrões esquisitos, sintetizadores, violões e demais instrumentos tocados apenas por Paul eram a princípio para testar o novo equipamento. Convencido por amigos que ouviram as gravações, Paul lançou o material em maio com o inevitável título McCartney II, recordando seu primeiro álbum solo lançado 10 anos antes no qual também tocava tudo sozinho. O single “Coming Up”, que o Wings já apresentava ao vivo na última turnê, se tornou um sucesso. A experiência da prisão japonesa inspirou a faixa “Frozen Jap”. O incidente também inspiraria Denny Laine que batizou seu álbum solo de “Japanese Tears”, lançado em dezembro.

Paul reuniu o Wings para ensaiar um novo álbum em outubro de 1980, embora, aparentemente, não estivesse muito entusiasmado com isso. Paralelamente, Paul estava trabalhando em “We All Stand Together” para o desenho animado Rupert com produção de George Martin. Logo Paul pediu a Martin pra produzir seu novo disco.

George Martin estipulou condições para trabalhar com Paul. Além de ser o produtor supremo, escolheria também os músicos para as gravações. Apenas Denny Laine foi convidado a participar. Paul aceitou e, aos poucos, foi ficando claro que não se trataria de um álbum do Wings e sim de um trabalho solo. Talvez não tão claro para Laine que estava acostumado a fazer parte do trio que compunha o núcleo da banda.

John Lennon foi assassinado. A notícia chocou todo o mundo e deixou Paul McCartney extremamente abalado. A única coisa que ele poderia fazer era prosseguir na música. George Martin abriu um estúdio na Ilha de Montserrat chamado AIR Studios. Ali, no início de 1981, Paul se cercou de convidados como Ringo Starr, Stevie Wonder, Carl Perkins, Eric Stewart (10CC), além de Denny Laine e outros músicos.

Em março, Paul, Linda e Denny Laine participaram dos backing vocals de “All Those Years Ago”, composta por George Harrison em homenagem a John Lennon e que também contou com Ringo na bateria. Foi a última colaboração de Laine com os McCartneys. O fim do Wings foi anunciado oficialmente em abril de 1981.

Em seguida, Paul finalizou o disco sozinho com George Martin e lançaria o trabalho em abril de 1982 com o título Tug Of War que incluía o tributo a Lennon, “Here Today”. O álbum seguinte, Pipes Of Peace de 1983 contava com algumas sobras de “Tug Of War” e, consequentemente, resquícios da participação de Denny Laine. Então, ele começou a falar mal de Paul e entrou em franca decadência, somente reencontrando o ex-parceiro mais de 10 anos depois, e publicamente em 2007 quando ambos assistiram a um show do UB40.

Paul continuou sua carreira solo com álbuns e turnês de sucesso. Linda morreu vítima de câncer em abril de 1998 após uma batalha de três anos contra a doença. Em 1997, o evento americano denominado Beatlefest contou com a presença de Denny Laine, Laurence Juber e Steve Holly, da última formação do Wings tocando juntos. Em 2007 e 2010 a reunião se repetiu com Laine, Juber e Denny Seiwell (este da primeira formação).

A Antologia do Wings foi realizada em 2000 e chamada de Wingspam. Paul preparou o especial de TV e contou a história de sua lendária banda dos anos 70 sem a participação de nenhum outro ex-integrante. Sobretudo, o Wings era de Paul. Era seu conceito de banda. Conceito que jamais abandonou por completo. Até hoje, mesmo apresentando-se como artista solo, Paul não deixa seu brilho ofuscar os músicos que o acompanham no palco. Ele nunca diz “quando eu toquei em tal lugar”, por exemplo. Ele sempre fala em nome de uma banda, “quando NÓS tocamos”, “NÓS adoramos tocar no Brasil”, etc.. Long live Wings! Long live Paul !

Fonte : THEBEATLES.COM.BR / Escrito por Adailton Lacerda

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