sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Entre ruínas e turismo improvisado, saiba o que restou do local de retiro dos Beatles na Índia

Rishikesh, na Índia, onde os Beatles se refugiaram em 1968 para compor e
meditar
Há 44 anos, o mundo tentava encontrar no mapa uma pequena cidade no norte da Índia, aos pés do Himalaia e na fronteira com o Nepal, a longínqua Rishikesh. Motivo : os Beatles aterrissaram de mala e cuia -- no total, uma 'entourage' de 60 pessoas incluindo esposas, namoradas, amigos e equipe de produção -- para uma temporada de meditação transcendental sob a protetora batuta de Maharishi Mahesh Yogi, guru e dono do luxuoso ahsram ( local para meditação ) que, durante quase dois meses, serviu de morada para uma das mais importantes bandas da história.

Se em 2012 demora-se até oito horas para fazer, de carro, o trajeto de Nova Déli a Rishikesh, uma distância de apenas 227 quilômetros, dá para imaginar o tipo de aventura que John, Paul, Ringo e George enfrentaram na época até chegar ao encontro do guru. A alternativa 'moderna' ao nada transcendental trânsito indiano é o trem que, embora mais rápido do que a versão quatro rodas, também pode demorar seis horas para fazer o trajeto -- excluindo os constantes atrasos.

Passado o perturbador barulho das buzinas de carros, caminhões, jipes, tuk-tuks ( versão oriental da nossa lotação ) e, principalmente, motos, começa-se a entender porque o período dos Beatles em Rishikesh foi o mais produtivo de toda a carreira do grupo, gerando um total de 30 músicas escritas ( até Ringo Starr escreveu uma canção ), sendo que 18 delas foram parar no "White Album" ( 1968 ), duas em "Abbey Road" ( 1969 ) e as outras viraram trabalhos solo. É em Rishikesh que fica a nascente do Ganges, o mais importante rio da Índia, e a cidade abriga um dos únicos trechos em que o rio manteve-se limpo. No local há ainda a belíssima ponte de Ram Jhuha que, além de ligar os dois lados de Rishkesk, proporciona uma vista digna de cartão postal para ser registrada enquanto aproveita-se o fim de tarde em uma das "german bakery" ( sinônimo de lanchonete ) da região.

Abandono e história do local

O período dos Beatles na Índia foi registrado pelo
fotógrafo Paul Saltzman, autor do livro a cima
O ashram que os Beatles estiveram entre fevereiro e abril de 1968 fica a leste da ponte, bons 40 minutos se o trajeto for a pé. Seguindo pela encosta do rio, vale a pena encarar a caminhada para conhecer um dos excelentes mercados locais, com melhores preços do que as lojas no centro de Rishikesh.

Embora a visita ao "ashram dos Beatles" seja um ponto turístico, ela não é legalizada. Há anos o local está abandonado e, desde 1997, foi fechado pelo governo indiano. Mas nada que a vizinhança local não resolva : um falso guarda de pouco mais de um metro e meio abre as ruínas dos portões para quem estiver disposto a pagar 50 rupees por pessoa ( aproximadamente R$ 2 ).

Quem for de moto ou bicicleta tem a garantia que seu veículo será bem cuidado pelas crianças da região -- em troca, claro, de uma boa gorjeta. O local também oferece o serviço de guia turístico, fundamental para quem deseja conhecer as mais escuras bibocas do que restou do ashram. Mas atenção ao preço do serviço : é melhor combinar um valor antes do passeio turístico para evitar aborrecimentos.

Enquanto ashrams são espaços de meditação e ioga conhecidos por suas quase primitivas acomodações, a luxuosa propriedade de 57 mil metros quadrados de Maharishi Mahesh Yogi chegou a acomodar mais de 400 pessoas em quartos individuais, aquecimento central, decoração com móveis tipicamente ingleses, aeroporto e água encanada -- esta até hoje considerada um luxo dos hotéis cinco estrelas da região --, além do fortíssimo esquema de segurança.

Estes "extras" que no início foram atrativos para os rapazes de Liverpool acabaram se tornando motivo de desentendimento entre o guru e seus discípulos britânicos : ao final da estada, os músicos alegaram que Maharishi ( 1918 - 2008 ) era ganancioso e que sua única preocupação era com dinheiro.

Parte do que foi o ashram dos Beatles em Rishikesh, na
Índia, no ano de 1968
Voltando ao ashram, o que sobrou dele foram ruínas, mas um olhar mais atento consegue encontrar detalhes luxuosos do que um dia foi a propriedade, espécie de iglus de dois andares inteiros construídos com pedras, salas do tamanho de ginásios que foram dedicadas à meditação e ioga e hoje viraram um amontoado de entulho, sem telhados e só a carcaça de algumas construções que ainda resistem aos efeitos do tempo.

Aos corajosos, quando equipados de uma lanterna, vale a pena explorar os corredores e tentar encontrar resquícios do espaço que, em 1968, foi um dos assuntos mais falados no mundo, já que a experiência em Rishikesh vale mais pelo que o local representou no passado do que pelo que ele é atualmente.

Como chegar em Rishikesh

Existem três formas de chegar a cidade de Rishikesh, no distrito de Dehradun, norte da Índia, partindo de Nova Déli. Ônibus é a opção mais barata, entretanto um pouco perigosa. Acidentes com ônibus levando passageiros para a região são comuns e a viagem pode ser um pouco assustadora com os ônibus balançando de um lado para o outro ao subir as colinas pelas estreitas estradas da região.

Trem é sempre a melhor forma de se viajar pela Índia, mas para o turista é recomendado comprar passagem de primeira ou segunda classe. Isso porque, em classes inferiores, é muito comum que as viagens sejam feitas com passageiros em pé ( devido a lotação dos vagãos ) e, em muitos casos, é frequente quando a bagagem dos passageiro não cabe dentro do compartimento destinado à malas gerando uma enorme confusão na plataforma. Se sua opção for viajar de trem, procure se informar da "tarifa de turista" -- são cotas de passagens com valor mais barato para estrangeiros, entretanto, é importante comprar com bastante antecedência.

A mais cara e confortável forma de viajar para Rishikesh é de táxi, o que é bastante indicado quando se está num grupo com mais de três pessoas. Combine o valor de antemão ( incluindo gorjetas, taxas e pedágio ) e procure se informar sobre as opções de carros para não ser surpreendido com um carro de apenas dois assentos.

Mais fotos do Ashram em que os Beatles estiveram entre fevereiro e abril de 68

Fonte : UOL

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